Nanda Costa reflete sobre pressões estéticas na TV
- Amauri Bezerra
- 16 de mar. de 2020
- 7 min de leitura
'Não conheço uma atriz que seja totalmente desencanada'
Da redação | 16 de março de 2020

Vivendo Érica em 'Amor de mãe', ela relembra sacrifícios para emagrecer: 'Fiz muita terapia' Foto: Amajobe News/Reprodução "Imperfeitamente perfeita.” O jogo de palavras, escrito em inglês na camiseta de malha preta usada por Nanda Costa, era a primeira mensagem que ela emitia numa manhã de sexta-feira, ao abrir a porta de seu apartamento, no Leblon. Descalça, com rabo de cavalo e usando calça jeans, a atriz preparou um café e desandou a falar sobre a sua personagem na novela “Amor de mãe”. “A Érica é sempre muito autêntica. Talvez, seja a filha mais parecida com a mãe”, diz, mencionando Lurdes, interpretada por Regina Casé. “É uma menina muito livre, vai aonde o coração mandar. Não fica se julgando ou se criticando. Ela sente, mas não sofre. É essa pessoa ‘bola pra frente’, que toca a vida.” Seriam atriz e personagem um bocado parecidas? Nanda faz uma pequena pausa para pensar sobre a comparação e devolve uma resposta incerta. “Temos muitos pontos em comum, mas também há diferenças, como a idade, por ela ser mais nova do que eu. Essa coisa do retorno de Saturno, acredite ou não, me trouxe muitas mudanças. Passar dos 29 anos para os 30 foi aquela coisa... ‘uou’”, descreve a atriz, hoje com 33. “Comecei a me importar menos com algumas coisas. Fiquei mais leve, mais livre. Até falar abertamente sobre o meu relacionamento (com a musicista e compositora Lan Lanh) veio depois dessa onda, sabe? E acho que Érica ainda não passou por isso.” Na trama, a jovem viveu um romance com Raul (Murilo Benício) e agora tem se aproximado de Sandro (Humberto Carrão), que é filho do primeiro, num flerte cujo desfecho ainda é incerto. Com o personagem de Murilo, entretanto, a coisa desandou quando ele começou a cobrar mais do que vibrar pelas conquistas de Érica. “A paixão existe para buscarmos o amor e vermos se aquela relação vale ou não a pena. Quando você está apaixonado, até tolera algumas coisas. Mas, depois que ela acaba, se tem amor, o relacionamento se sustenta. Caso contrário, não”, teoriza. O que faltou no romance de Érica e Raul parece ter em abundância na relação de Nanda com Lan. Juntas há seis anos e dois meses, casadas há um, elas seguem em plena sintonia e já planejam filhos. “Temos esse desejo há um tempo, e estamos preparando o apartamento para isso. Morávamos em duas casas e mudamos para cá em maio do ano passado. Já congelei óvulos para esperar o momento certo. Mas, agora, só quero falar de filho quando ele estiver dentro da barriga, depois de três meses de gestação.” Lan também é reservada ao comentar o assunto: “Somos muito determinadas quando queremos realizar algo. Já tenho 51 anos, então, sou muito experiente e plantada na vida, com o que gosto. Por ter nascido na Bahia, carrego uma tranquilidade comigo. Mas também tenho uma expectativa muito grande, embora saiba que vai acontecer no momento certo. E, quando for a hora, será abençoado.” Enquanto a maternidade não vem, as duas vivenciam uma rotina de leveza e cumplicidade, muitas vezes, compartilhada pelas redes sociais. Nanda tem 2,6 milhões de seguidores no Instagram, e Lan, 249 mil. Por lá, não é raro vê-las curtindo um dia de praia, se jogando em festas, trocando beijos e declarações apaixonadas ou simplesmente cortando um mamão no café da manhã. “Demorei 20 anos para me aceitar e viver meus amores. Lembro de contar para a família, e meu avô dizer: ‘Está tudo certo. Mas sua mãe e sua avó vão levar o tempo delas para entender isso’”, comenta a atriz. A exposição tem a ver com o interesse de Nanda e Lan em naturalizar a relação entre duas mulheres, frequentemente fetichizada e tratada com preconceito. “Ao nos filmarmos cozinhando e almoçando, mostramos como é tudo muito natural entre nós. Vibramos no lugar da família, do amor e do respeito. Então, não sentimos muito essa vibração (do fetiche). No máximo, tem o preconceito com aquela frase idiota ‘ai que desperdício’”, diz Nanda.

Nanda Costa Foto: Amajobe News/Reprodução
Desde que tornaram a relação pública, as duas passaram a receber muitas mensagens com desabafos e agradecimentos de seguidores e seus familiares sobre aceitação. Sustentar essa postura, porém, nem sempre é fácil. “Na época das últimas eleições, recebi ameaças do tipo ‘vou fazer isso ou aquilo com você, sua sapatão’”, recorda-se Nanda. Assustada, ela optou por se afastar das redes, numa fuga que logo foi notada pelos fãs. “Quando respondia que estava difícil porque estava sendo ameaçada, eles diziam: ‘Se está assim para você, imagina para nós?’. Foi aí que entendi a importância de falar. Pode não ser relevante para você, hétero privilegiado, que vive num determinado meio, mas para a galera que me acompanha e me apoia é. Então, vou defendê-la. É uma troca.”
Natural de Paraty, Nanda não se esquece de outra frase dita pelo avô, quando começou a demonstrar o desejo de seguir a carreira de atriz. “Enquanto minha mãe e minha avó faziam ponderações sobre o mercado difícil, ele dizia: ‘Mira no Oscar e veja onde você acerta’.” Pois bem. Desde que decidiu estudar teatro em São Paulo, onde ainda adolescente chegou a morar num pensionato de freiras, ela consolida, a cada trabalho, a densidade de sua carreira. Já protagonizou novela das 21h, foi premiada pelos trabalhos no cinema e aguarda a chegada às telas de sua primeira atuação numa produção internacional. Será em setembro, no filme “Monster hunter”, inspirado no game homônimo. O longa tem direção de Paul W.S. Anderson (“Resident Evil”) e Milla Jovovich no elenco.
O trabalho exigiu que a atriz decorasse falas em esperanto, idioma falado pela sua personagem, e gravasse cenas num enorme set montado na Cidade do Cabo, onde deparou com vários efeitos especiais, como fogo, chroma keys e até tempestade de areia artificial. “Eu matava monstros, fugia de coisas que não estava vendo”, descreve. “Numa cena em que precisava ser içada por um guindaste, iam usar um dublê. Mas, quando vi aquilo, os meus olhos brilharam e pedi para fazer eu mesma.”
Atualmente, Nanda está na fase de captação para transformar em filme o livro “O ano em que morri em Nova York”, de Milly Lacombe, de quem comprou os direitos com a roteirista Patrícia Andrade e a produtora Kiki Lavigne. Também planeja dividir os palcos com Lan, num espetáculo sobre o qual ainda não tem muitos detalhes. A agenda diversa soa apropriada a uma artista afeita a desafios. “Não posso com ‘duvido’. Não duvide de mim”, ela diz, sobre uma atitude plenamente reconhecida por parceiros como o cineasta Walter Carvalho, um dos diretores de “Amor de mãe”. Eles trabalharam juntos, pela primeira vez, no filme “Sonhos roubados” (2009), de Sandra Werneck, cuja fotografia é assinada por ele. “A Nanda não decora o texto. Sabe falar com o silêncio e os olhos”, elogia Walter. “Consegue expressar uma emoção até fora de quadro, às vezes, sem estar com a face completamente revelada. Tem um veneno dentro que sabe administrar. É visceral.”
Desse primeiro encontro, Walter teve a ideia de indicá-la para o elenco de “A febre do rato” (2011), de Cláudio Assis, no qual ele também fez a direção de fotografia. No trabalho, Nanda embarcou em cenas antológicas, que incluíam fazer xixi diante das câmeras e tirar a roupa em pleno Centro de Recife, no meio da tarde. Ao chegar à capital para as filmagens, ela tinha acabado de estourar na TV com a Soraia de “Viver a vida” (2009), sua primeira personagem numa novela das 21h. “Muita gente estava me reconhecendo na rua. Aí o Cláudio falou: ‘Tu é bonitinha de novela. Meu filme não é isso, é para mulher com atitude’. Fui lá e cortei meu cabelo. Aquela provocação despertou o monstrinho da criação. Queria ir para a periferia e viver tudo aquilo sem ser reconhecida.”
Enquanto relembra os bastidores das filmagens, Nanda afirma não ter problema em tirar a roupa de um personagem desde que “vista a camisa dele”. Mas, quando é perguntada sobre a relação com o corpo no dia a dia, é sincera. “Não conheço uma atriz que trabalhe na TV que seja totalmente desencanada. Mas hoje estou bem mais tranquila. A coisa mais importante é a minha saúde. Fui uma adolescente muito gordinha e sofria todo tipo de piada. Depois, comecei a fazer tudo quanto é dieta, da sopa, da proteína, da Lua. Ficava fraca e não conseguia malhar. Estava sempre brigando com a balança.”
Há alguns anos, a atriz viveu a experiência mais extrema nesse sentido, ao tomar remédios para emagrecer. “Comecei a ter um pique enorme. Acordava às 5h, dava duas voltas na Lagoa, malhava, seguia para as gravações e ainda ia a festas”, relata. No meio disso, lembra a atriz, apareceram muitas capas de revistas interessadas no seu corpo sarado, que ainda recebia camadas de Photoshop até chegar às bancas. Porém, o médico que a atendia adoeceu, e Nanda ficou sem receitas para novos medicamentos. “Passaram-se duas semanas, e bateu o cansaço de tudo aquilo que estava fazendo. Comecei a ficar ansiosa e a comer mais. Fiz muita terapia até tirar aquela química do meu corpo e me equilibrar.”
A recuperação também passou pelos treinamentos de Jun Igarashim, carioca criador de um famoso método que mistura artes marciais e pilates. Ele morreu no fim do ano passado, aos 44 anos, após sofrer um infarto fulminante. “Cheguei querendo treinar pesado, e ele me pedia calma, senão ia me machucar. Na sexta-feira, abria uma cerveja depois dos exercícios, dizendo que eu merecia. O Jun me ajudou muito, era um verdadeiro mestre. A morte dele me fez pensar sobre como a vida é muito rápida. Se não conseguirmos deixar uma história, um legado, por que a gente passou por aqui?”, diz ela, num tom mais reflexivo. “É por isso que acho importante falar do meu relacionamento e incentivar as pessoas a buscarem os seus sonhos. É o jeito que tenho para ajudar. É como acredito, é a minha verdade.”
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