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Mulheres têm mais risco de apresentar sofrimento psicológico relacionado à Covid-19

  • Foto do escritor: Amauri Bezerra
    Amauri Bezerra
  • 20 de jun. de 2020
  • 6 min de leitura

Da redação | 20 de junho de 2020

Os impactos para a saúde mental estão entre as diversas consequências da pandemia de coronavírus Foto: Amajobe News


Os impactos sobre a saúde mental estão entre as diversas consequências da pandemia do novo coronavírus. Isolamento social, medo do contágio, perda de renda e morte de pessoas queridas são alguns fatores que contribuem para o surgimento de quadros como ansiedade e depressão.


A Organização das Nações Unidas (ONU) destacou que as mulheres correm um risco particular de apresentar sofrimento psicológico relacionado à Covid-19, "particularmente aquelas que estão fazendo malabarismos com a educação em casa e trabalhando em tarefas domésticas."


A auxiliar financeira Bianca Valente, de 31 anos, notou sintomas de ansiedade pela primeira vez durante a pandemia. Ela mora no Rio de Janeiro com o namorado e está trabalhando em casa. As primeiras semanas do isolamento foram tranquilas, mas, a partir do fim de março, começou a se preocupar muito com a possível morte de pessoas de sua família e decidiu procurar apoio psicológico gratuito. Além do acompanhamento profissional, Bianca também passou a consumir menos notícias relacionadas ao coronavírus. No entanto, no último domingo, ela assistiu a uma reportagem sobre o tema e começou a sentir um nó na garganta.


— Tive uma sensação ruim, que não passava. Tentei deitar para relaxar e comecei a sentir falta de ar. Fiz exercícios de respiração e como não apresentei nenhum sintoma de outra doença, acredito que tenha sido uma crise de ansiedade — conta.


Uma das principais queixas de Bianca atualmente é a falta de concentração, que tem atrapalhado também no trabalho.


— Nunca passei por isso antes, foi uma situação muito nova. Meu maior medo é ficar com essa herança da pandemia. Não sei se isso vai ser um caso isolado ou se vai passar a fazer parte da minha vida — desabafa.


A estudante Erika Chaves, de 20 anos e moradora de Minas Gerais, já percebia sintomas de ansiedade há algum tempo. No entanto, com a pandemia e a necessidade de ficar em quarentena, a situação piorou. Na última semana, ela se sentiu mal e ficou com o corpo "adormecido". Erika foi ao hospital, onde recebeu o diagnóstico de crise de ansiedade.


— Moro em um pensionato com algumas pessoas, mas longe da minha família, então isso piora bastante. Fico me questionando se minha mãe está bem. Além disso, não estou indo para a faculdade, algo que ocupava minha mente. Acredito que isso tenha contribuído muito — afirma a estudante.


A psiquiatra Maila Castro, membro da Comissão de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que quando uma população é submetida a um estresse muito grande — neste caso, a pandemia da Covid-19 — é notado um aumento na prevalência de transtornos mentais, especialmente os mais relacionados ao estresse.


— Num primeiro momento, nota-se um aumento nos transtornos de adaptação e depois nos depressivos, de ansiedade, estresse pós-traumático, casos de comportamento suicida e o agravamento de quadros que envolvem uso de substâncias, como álcool e drogas ilícitas — cita a médica, que também é professora na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).


Além disso, a psiquiatra acrescenta que o isolamento social diminui o repertório de atividades as quais podemos recorrer quando sentimos mal estar, como sair com um amigo, ir ao cinema ou fazer atividades ao ar livre. Por isso, as publicações também relatam uma sensação de medo, solidão, tédio e raiva na população, relacionados a uma incerteza diante do futuro.


— São alguns sintomas que vão permear algum tipo de sofrimento em relação à saúde mental — afirma.


Castro explica que as mulheres, em geral, são mais vulneráveis a algumas doenças psiquiátricas, principalmente o transtorno depressivo. Ela faz um paralelo da pandemia de coronavírus a um estudo da UFMG, realizado após o rompimento da barragem de Mariana em 2015, que também mostrou que as mulheres sofreram mais com a depressão.


— A explicação vem de uma série de questões. Desde fatores sociais sobre ser mulher até uma uma predisposição biológica relacionada a ciclos em que as mulheres têm alterações hormonais e estão mais vulneráveis, como o período perinatal e o climatério — diz.


A psicóloga Amana Mattos, professora associada do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), destaca que em um momento no qual é pedido às pessoas que fiquem em casa, o trabalho doméstico recai principalmente sobre as mulheres, o que também gera consequências para a saúde mental.


— A maioria dos homens parece estar descobrindo um universo distante, assim como as famílias de classe média e alta, que terceirizam essas funções para mulheres pobres e racializadas. Para quem está fazendo trabalho remoto, as tarefas de cuidado atravessam a rotina e principalmente as mulheres têm assumido essas funções. Além disso, os postos de trabalho na área da saúde são ocupados majoritariamente por mulheres. A sobrecarga de trabalho e o risco de contágio têm efeitos psíquicos que não podem ser desconsiderados — afirma.


Ela também ressalta que os conflitos e violências que já ocorriam na esfera doméstica se intensificaram com o isolamento social.

— Nesse sentido, mulheres, crianças e pessoas LGBTI estão mais expostas a violências e abusos, com menos acesso à proteção legal e social. Tudo isso produz e amplifica o sofrimento psicológico — pontua. 


Quando buscar ajuda?


De acordo com a psiquiatra Maila Castro, sentimentos negativos e de mal estar fazem parte desse momento histórico que estamos vivendo e são esperados. No entanto, se um indivíduo nota prejuízo em diversas áreas, como as familiares, laborais e sociais, é importante desconfiar que pode ser necessário procurar ajuda profissional.


Castro explica que, no caso da depressão, é comum sentir uma tristeza pertinente a maior parte do dia, quase todos os dias, mas que precisa estar associada a pelo menos outros quatro sintomas. Outro quadro comum é a ansiedade, caracterizada por uma preocupação excessiva com atividades cotidianas, que atinge também a dimensão física, podendo apresentar sintomas como aumento da frequência cardíaca, palpitações, tensão muscular, dor de cabeça, bruxismo, sono não reparador, desmaio e a falta de ar, o que faz com que muitas vezes seja confundida com a doença respiratória.


— Sintomas ansiosos são comuns em uma situação como essa. A ansiedade é um comportamento benéfico da espécie humana, porque dá sinais de um possível acontecimento desastroso e faz com que a pessoa se previna. Mas quando os sintomas começam a impactar muito a vida do indivíduo e a causar sofrimento, é importante procurar um profissional para saber se precisa de tratamento, e de qual tipo — afirma, e ressalta que, em caso de dúvida, o ideal é sempre buscar esse apoio:


— Não espere os sintomas se agravarem, porque o tratamento não é imediato, demora um pouco para fazer maior efeito.


Durante a pandemia, diversos locais têm oferecido atendimento psicológico de forma online. O portal do Mapa da Saúde Mental, uma iniciativa do Instituto Vita Alere com apoio do Google, lista algumas dessas iniciativas com serviços gratuitos ou a preços mais acessíveis.


Como reduzir impactos negativos para a saúde mental


A psiquiatra lista algumas recomendações para reduzir os efeitos negativos da pandemia na saúde mental. Entender porque é necessário se isolar, buscar fontes de informações seguras, manter uma rotina em casa, se expor ao sol mesmo que pela janela, praticar atividades físicas e viver o momento presente são algumas delas. Além disso, ela destaca a importância do suporte social:


— Os estudos sobre o tema mostram como é importante ter um suporte social para proteger a saúde mental, mantendo contato com família, com amigos ou alguém próximo. A internet tem nos possibilitado essa sensação de pertencimento, não da melhor forma, mas de uma maneira possível — avalia.


Essas principais recomendações estão reunidas em uma cartilha sobre saúde mental e Covid-19 elaborada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), pesquisadores da UFMG e Ministério da Saúde.


A psicóloga Amana Mattos destaca a importância de, em um momento em que a proteção contra o vírus está relacionada ao distanciamento social, não responsabilizarmos os indivíduos por não estarem sendo produtivos.


— Estratégias de cuidado em rede, de fortalecimento de coletivos, sindicatos e associações que permitam enfrentar situações de violação de direitos podem ser buscadas para que o sofrimento não seja individualizado. Ainda que ele seja vivido subjetivamente, ele é atravessado por um contexto — afirma.


Em relação às desigualdades de gênero, ela ressalta a necessidade de discutirmos questões como a divisão das tarefas domésticas e a sobrecarga de mulheres em funções de cuidado, para que sejam pensadas e enfrentadas.


 
 
 

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