A pele e o coronavírus
- Amauri Bezerra
- 19 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
Por enquanto, é ainda cedo fazer o estabelecimento direto dessas manifestações de pele com o coronavírus, seja como meio diagnóstico, seja como meio prognóstico dessa virose.
Nota da redação | 19 de maio de 2020

Rosto de mulher mostrando o envelhecimento da pele IStock/Getty Images
Desde o início da pandemia pelo coronavírus, médicos estão descrevendo diferentes sinais e sintomas, nos mais variados órgãos e sistemas, que podem cursar com a infecção. Tal ato é nobre pois, além de traçar métodos clínicos mais sugestivos para se estabelecer diagnósticos precoces dessa enfermidade, pode, em última instância, tentar estabelecer critérios apurados para se conhecer o prognóstico da doença.
Nesse sentido, algumas manifestações cutâneas do coronavírus já foram relatadas e merecem discussão na coluna desse mês. Até agora, sete possíveis manifestações foram observadas: acroisquemia, eritema pérnio, exantema morbiriforme, exantema purpúrico/petequial, exantema tipo varicela (“catapora”), urticária e SDRIFE.
• Acroisquemia: considerada, talvez, a mais grave das manifestações cutâneas do coronavírus, a acroisquemia foi descrita em casos mais graves da doença, em pacientes internados em unidade de terapia intensiva. Esses pacientes apresentavam cianose de extremidades, bolhas de sangue e necrose, provavelmente, resultantes de fenômenos microembólicos sistêmicos causados pela evolução da doença viral.
• Eritema pérneo: caracterizado por placas violáceas sobre base avermelhada, infiltradas e dolorosas, nas faces laterais dos pés e dorsais dos dedos dos pés. Esse manifestação foi vista principalmente nos pacientes do norte da Europa, sugerindo, inclusive, estar associada a uma manifestação leve do coronavírus.
• Exantema morbiriforme: é uma manifestação cutânea comum de várias doenças virais e alergias medicamentosas, manifestando de mais variadas formas. As mais comuns são caracterizadas por manchas avermelhadas associadas a pápulas (“bolinhas”) avermelhadas, vesículas ou lesões purpúricas.
• Urticária: podendo aparecer antes ou após a sintomatologia geral do coronavírus, são placas avermelhadas, pruriginosas, que, em alguns casos, confundiu o diagnóstico precoce de infecção por coronavírus.
• SDRIFE: caracterizado por exantema em áreas de dobras, parecido com “Symmetrical Drug-Related Intertriginous and Flexural Exanthema” (daí, a sigla SDRIFE), também conhecido como síndrome do babuíno.
Por enquanto, é ainda cedo fazer o estabelecimento direto dessas manifestações de pele com o coronavírus, seja como meio diagnóstico, seja como meio prognóstico dessa virose.
As citações dessas manifestações foram frutos de relatos de casos, o que nos obriga esperar por dados vindos de estudos epidemiológicos mais abrangentes e conclusivos. No entanto, esses relatos já alertam para a possibilidade do coronavírus ser, sim, mais do que uma “simples gripezinha”, tratando-se de uma doença de abrangência sistêmica, que atinge vários órgãos e sistemas, e que merece a atenção e o empenho das autoridades políticas e de saúde do mundo todo.
Adilson Costa — CRM/SP: 91.128 e RQE/SP: 25.252
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